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O ministério de jovens e a família

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O lugar dos jovens na igreja tem vários aspectos. Poderia se discutir sobre a instrução dos jovens no catecismo, o papel da igreja no estabelecimento de escolas cristãs, o que dizer aos jovens nas visitações no lar, a significância da profissão de fé dos jovens, a comunhão com outros jovens, etc. Várias igrejas lidam com os jovens de formas diferentes. Em alguns casos, os jovens são “invisíveis”. Eles são agrupados com os adultos ou com as crianças, o que for mais conveniente no momento. Em outros casos, contudo, os jovens recebem atenção especial em uma fala no decorrer da pregação e durante a visita no lar. As aulas de catecismo procuram falar no nível dos jovens e periodicamente abordam algumas questões e problemas da modernidade. Grupos de jovens são iniciados para acomodar a interação social dos jovens e o estudo das Escrituras, doutrina, e questões práticas para os jovens. Às vezes acampamentos regionais são organizados como uma extensão deste trabalho. Aqui os jovens são “visíveis” como um grupo dentro da igreja. Muitas vezes esse trabalho é simplesmente coordenado pelo Conselho e envolve pais interessados em servir como líderes.

Em algumas igrejas há um “ministério de jovens” específico, com um pastor dos jovens ou até um departamento dos jovens. O ministério de jovens tem se tornado um ministério comum em muitas igrejas hoje em dia. Em alguns casos, tem até estado à frente de todos os ministérios. Muitas igrejas tem adotado e implementado efetivamente esse tipo de ministério para alcançar os jovens. Às vezes, isso é feito por motivos práticos. A igreja é grande e os jovens são muitos. É necessário um esforço concentrado para coordenar tudo. Em outros casos, no entanto, há uma filosofia específica por trás do isolamento dos jovens. Acredita-se que os jovens têm impulsos contraculturais. Eles podem facilmente perceber a igreja como uma instituição identificada muito próxima ao status quo. Para prevenir que os jovens abandonem a igreja completamente, é defendido que a igreja deve estabelecer um “refúgio” contracultural, para que os jovens possam estar na igreja. O pastor dos jovens funciona como um intermediário, frequentemente se conduzindo de uma forma que se identifique com os jovens. Nesse cenário, eles não somente são visíveis, mas também isolados. Neste breve artigo, eu gostaria de chamar a atenção para o perigo de isolar os jovens na igreja e também afirmar que uma conexão saudável com a família deve ser promovida e nutrida. Cada vez mais há uma tendência de o ministério de jovens competir com a unidade e o treinamento oferecidos pela família. Junto com os centros educacionais nas escolas, o ministério de jovens tornou-se uma alternativa “profissional” às funções dentro da família.

Dr. Marv Penner acredita que os pais estão desesperados para se conectarem com seus filhos e que crianças estão desesperadas para se conectarem aos seus pais. Frequentemente, o ministério de jovens viola esse relacionamento. Jovens se sentem seguros e confortáveis conversando com alguém que é um colega respeitado (isto é: pastor dos jovens/presbítero) em vez de seus pais. Contudo, uma das coisas frequentemente esquecidas é que, o “pastor dos jovens” vai para casa no final do dia e os jovens muitas vezes retornam aos seus lares. Agora, no lar o relacionamento paifilho tem sido ainda mais enfraquecido e os relacionamentos estão distantes, porque compartilhamos com todos exceto com nossa própria família.

Hoje em dia, os pais muitas vezes se sentem incompetentes em relação aos profissionais e especialistas em muitas questões. Como resultado, estão respondendo aos seus filhos com seus próprios medos e falhas, que são demonstrados de várias maneiras. Em primeiro lugar, eles frequentemente menosprezam as complexidades das circunstâncias de seus filhos e as questões na vida deles. Em segundo lugar, os pais muitas vezes criam distanciamento no relacionamento por meio de muita ocupação ou o silêncio que muitas vezes é legitimado. Talvez, se entreguem ao trabalho, assistem a vida na televisão em lugar de conversar sobre a vida com aqueles que são seus dependentes. Isso leva pais à conclusão errada de que, mesmo que seus filhos estejam passando por diferentes estágios (seja puberdade, rebeldia) em suas vidas, eles continuam os mesmos porque falta comunicação. A terceira forma em que pais demonstram seu medo, é identificando-se demais com seus filhos. “Se não pode vencê-los, junte-se a eles.” Em vez de desenvolverem um relacionamento pai-adolescente saudável, se juntam a eles em suas modas e manias. Por isso, Dr. Penner sugere que o ministério de jovens não deve substituir a unidade da família.

O que qualquer ministério de jovens deve fazer é:

  1. Conectar os jovens com a igreja;
  2. Conectar os jovens com os pais;
  3. Conectar os jovens com a comunidade. O ministério de jovens deve respeitar a soberania da família e ajudar a nutrir a conexão dos jovens com suas famílias.

Os ensinamentos na escola e outros ambientes de aprendizagem (que são importantes) não podem acrescentar muita coisa. Outras ferramentas, como televisão, não podem prover nada de muito valor para os jovens; consequentemente, os pais precisam ser encorajados em várias áreas. Seis características de famílias saudáveis incluem expressar apreciação e afirmação um ao outro; fazer coisas juntos; verbalizar o compromisso de um para com o outro; uma comunicação bem desenvolvida de pensamentos, sentimentos, e ideias; um compromisso espiritual profundo; e tendo experimentado e respondido de forma apropriada a um momento de crise.

Alguém pode contestar e apontar que muitas famílias não estão, definitivamente, oferecendo o que os jovens precisam e que não é de se admirar que jovens procurem uma “alternativa profissional” em outro lugar. É verdade, muitas famílias não estão funcionando de “forma saudável”. A comunicação não mais existe. O excesso de ocupação e os interesses pessoais são a regra da casa. Em algumas situações, há completa instabilidade e disfunção. Isso, contudo, é apenas um argumento evasivo. Até em casos disfuncionais, o ministério de jovens deve ter como alvo reestabelecer e nutrir a integridade da família. O nosso ponto de partida não deve estar em casos disfuncionais, mas sim, em normas bíblicas.

De acordo com as Escrituras, a família (não a escola, igreja, TV) é a ponte primária sobre a qual a fé passa de uma geração para a próxima (Dt 6.4-9). A família também é o melhor campo de treinamento para aprender e desenvolver as habilidades relacionais necessárias para a vida adulta (1 Tm 5.1,2). Finalmente, a família é o retrato primário que Deus usa na Bíblia para descrever Seu relacionamento conosco e nossos relacionamentos para com os outros.

“Eu e minha casa serviremos ao Senhor.” (Js 24.15)

Os pais precisam ser lembrados de que eles são ministros dos jovens, aqueles que devem liderar as crianças e jovens nos caminhos em que devem andar, e não deixar para qualquer outro. Assim como Josué com o povo de Siquém, os pais também devem se comprometer a servir suas famílias no Senhor. Isso não deve ser uma questão apenas de palavras, mas de atos, um para com o outro, em o nome de Jesus e para Ele.


Artigo publicado originalmente na Revista Diakonia (Canadá), 1998.

Tradução: Chris Boersema.

Revisão: Ester Santos.

O website revistadiakonia.org é uma iniciativa do Instituto João Calvino.

Licença Creative Commons: Atribuição-SemDerivações-SemDerivados (CC BY-NC-ND). Você pode baixar e compartilhar este artigo desde que atribua o crédito à Revista Diakonia e ao seu autor, mas não pode alterar de nenhuma forma o conteúdo nem utilizá-lo para fins comerciais.

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