Uma das perguntas que os visitadores eclesiásticos farão aos presbíteros e diáconos é se seu pastor estuda diligentemente. Houve momentos na história da igreja onde os visitadores eclesiásticos insistiam em visitar o gabinete pastoral para conferir sua biblioteca. Isto lhes dava uma ideia dos métodos que o pastor utilizava na preparação de seus sermões e sobre outras ações relacionadas à congregação. Para se ter certeza, a questão não é simplesmente: Ele dedica tempo suficiente nos seus estudos lendo publicações teológicas e trabalhando em abrir seu caminho através de novos livros? A verdadeira pergunta é: Ele se prepara adequadamente para pregar a Palavra de Deus por meio de uma minuciosa exegese? É possível aos pastores anunciarem um diferente texto a cada manhã do Dia do Senhor, mas pregar essencialmente o mesmo sermão. Alguém poderá pregar uma mesma e fixa exposição esquemática de conceitos espirituais.
Por vezes a congregação sente que o pastor tem aproximadamente dez sermões para os quais ele continuamente seleciona novos textos. Este questionamento dos visitadores eclesiásticos relaciona-se com as palavras de nosso Senhor Jesus em Mateus 13.52 “Então, lhes disse: Por isso, todo escriba versado no reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas.” O pastor deve desenterrar novos e velhos tesouros da Palavra. Era presente na mensagem de Cristo a continuidade do Antigo Testamento e ao mesmo tempo uma variedade de verdades e aplicações. Novas coisas devem ser realçadas sem abandono das velhas. Isto requer muito trabalho árduo.
Coisas novas
É parte do privilégio de ser pastor ser o primeiro beneficiário de seus estudos. Não é bom se um pastor não deseja trazer à congregação esses “novos tesouros,” os quais se tornaram preciosos ao seu coração. Ele priva a congregação de riquezas inesgotáveis que estão contidas na Palavra do Senhor. Ele deve “extraí-las”. Ele precisa ir fundo e buscar a Palavra de Deus.
Um pastor tem uma grande quantidade de recursos disponíveis para ele. No entanto, ele tem de procurá-los e fazer uso deles. A carência de muitos sermões consiste em falhar na exegese das passagens. Toda atenção deve ser dada na exposição das Escrituras. As palavras das Escrituras e a rica mensagem dada por meio do Espírito precisam ser explicadas e expostas em direção ao próprio coração da Bíblia: a cruz de Cristo. Isto requer um esforço espiritual da parte do pastor. É necessária toda a capacidade de seu coração e mente para expor a mensagem das Escrituras. Mas é recompensador. Coisas surpreendentes são trazidas à luz e a congregação será levada a compartilhar dessa alegria. Sendo assim, a exposição das Escrituras merece toda sua atenção.
Exegese é muito mais do que consultar comentários. Você consegue perceber quando um pastor simplesmente consultou alguns comentários em algumas passagens mais difíceis, mas, no restante, não foi “ferido pelo texto,” como diria Lutero. Adolph Monod disse, em seu leito de morte:
“Nós devemos nos propor problemas. Porque nisso, tal como em qualquer parte da vida cristã, Deus nos fará trabalhadores para Consigo; e o conhecimento da Bíblia, e um prazer pela Bíblia, são o fruto e recompensa para este humilde, sincero e perseverante estudo.”
Se isto é válido para a exegese da Bíblia, isto também vale para a sua aplicação que é, concretamente expor a mensagem daquele texto para a congregação. Não é correto expor o texto e então trazer uma aplicação arbitrária ou esquematizada. Neste caso, uma vez que as Escrituras oferecem uma riqueza de material, não deve haver sempre apenas uma mesma aplicação.
No entanto, novas coisas não significam “ideias inovadoras.” Alguns homens parecem inclinados a encontrar coisas fora das Escrituras ao trabalhar com ela. Hugh Binning escreve:
“Deixe os outros serem sábios para própria destruição deles, deixe que estabeleçam para si mesmos a própria imaginação para a Palavra de Deus e para a regra da fé deles; abrace rapidamente o que recebeu e lute fervorosamente por isso; não adicione nada e não diminua nada. Deixe esta lâmpada brilhar até o dia amanhecer, até na manhã da ressurreição, caminhe à luz disto, e não acenda qualquer outra centelha. Caso contrário, deitar-te-ás na graça em tristeza, e levantar-te-ás em tristeza.”
Discussão na reunião do conselho
Há uma tarefa para o conselho a este respeito. Nos intervalos regulares, o conselho deve conduzir uma discussão fraternal sobre o método, conteúdo, apresentação e recepção da pregação. Os presbíteros e os diáconos não necessitam ter estudado Hebraico ou Grego para saberem se o pastor se utiliza dessas línguas para fazer a exegese dos Antigo e Novo Testamentos. O texto deve ser exposto e aplicado. Isto precisa ser feito de tal forma que a Palavra de Deus naquela passagem (ou naquele único texto), a mensagem de pecado e da graça em sua surpreendente completude chegue ao pastor e à congregação. A Palavra deve ser proclamada. O Evangelho eterno é para ser anunciado.
Isto só pode ser feito quando o pastor se posiciona debaixo da Palavra e ele mesmo compreende ser um com a congregação.
Assim, é difícil pensar sobre qualquer outro maior privilégio do que ser ministro do Evangelho da Graça de Deus. Onde o Espírito de Cristo promove a atuação do poder da Graça, onde a congregação sempre e mais uma vez deve experimentar as surpreendentes riquezas do Evangelho. E onde o pregador submete-se a si mesmo em humildade e sem medo debaixo da Palavra que ele pregou. Nós devemos seguir o exemplo de Martinho Lutero. Ele estudou para seus sermões, e, portanto poderia pregá-los de uma maneira nova, estimulante e pessoal. Ele pregou a Palavra de Deus com convicção.
Lutero finalizou cada um de seus sermões de uma forma que lembrava às palavras que ele proferiu diante do imperador e da sociedade imperial na Dieta de Worms: “Aqui me encontro! Eu não posso fazer diferente! Que Deus me ajude, Amém.” Isto o retrata no poder da Palavra. O pastor que sobe ao púlpito de tal forma também pode descer assim do púlpito. Ele tem feito o seu trabalho na dependência do Senhor. Ele pode deixar às bênçãos e os frutos para o Senhor. Nós podemos apenas plantar e regar. O Senhor é quem faz crescer (1 Coríntios 3.6-9). Isto nos torna humilde. Ao mesmo tempo nos dá a confiança de que Ele completará Seu próprio trabalho. O pastor trabalha nesta esperança. A congregação deve receber a Palavra de Deus como que vinda dos próprios lábios do Senhor.
Artigo publicado originalmente na Revista Diakonia (Canadá), 2000.
Tradução: Sarah Alexandre Nunes.
Revisão: Beatriz Sales Souza.
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