Quando a nova aliança entrou em vigor? De um modo geral, pode-se dizer que a antiga aliança da Lei existia desde o Sinai até o aparecimento do Senhor Jesus em carne. É verdade que alguns colocariam o início dessa antiga aliança no paraíso, após a queda, mas prefiro pensar que ela é uma das cerimônias e sombras instituídas no Monte Sinai.
Sobre o início da nova aliança, podemos estar certos. Isso aconteceu pelo ministério de nosso Senhor Jesus Cristo, que pouco antes de sua morte, na última Páscoa, a anunciou e a instituiu.
Durante a Páscoa
Lembramos que a Páscoa, celebrada pela primeira vez na noite do Êxodo, é a festa da aliança por excelência. Em seguida, o cordeiro é abatido e seu sangue é colocado nas portas e umbrais das portas. Já observamos como João Batista identificou o SENHOR Jesus sendo Ele o verdadeiro sacrifício pascal, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.
Cristo confirmou isso durante sua última Páscoa. Quando o pão foi partido, ele disse aos seus discípulos: “Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.” (Mt 26. 26-28). Na versão de Lucas 22, encontramos a expressão: “este cálice é a nova aliança no meu sangue…” (vs. 20).
O apóstolo Paulo, que conhecia bem Lucas, segue a versão do médico amado: “Este cálice é a nova aliança…” (1 Co 11.25).
A aliança é válida apenas através do sacrifício de expiação e reconciliação. Em Levítico 17.11, esse princípio da aliança é declarado: “Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida.” Sem o sacrifício, o derramamento de sangue, não pode haver reconciliação.
Não é de se admirar, então, que Cristo ao trazer o sacrifício final falasse da “nova aliança no meu sangue.” Quando Seu sangue foi derramado, a aliança foi renovada de uma vez por todas. Ele é o verdadeiro Cordeiro de Deus.
“Está consumado”
A nova aliança não pode ser considerada vinculativa até que tudo o que é necessário para que ela entre em vigor tenha sido totalmente cumprido. Isso significa que o Cordeiro de Deus teve que passar por toda a ira de Deus a respeito do pecado de toda a raça humana; de fato, teve que mergulhar em agonia infernal. Nenhum aspecto da justiça de Deus poderia ser deixado sem satisfação.
Depois que Cristo passou as três horas de escuridão e clamou: “Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste?” (Mt 27.46), ele pediu algo para beber, dizendo: “Tenho sede.” (Jo 19.28). Na verdade, diz: “Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede!” Ele precisava beber para ter uma voz clara e audível, para que, pelo último esforço pudesse declarar: “Está consumado.” O trabalho de expiação havia sido completado, o sacrifício oferecido, e agora ele podia se entregar ao ato final de morrer. Portanto, lemos: “E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito.”
Este é o momento em que a nova aliança se torna uma realidade eterna.
A cortina rasgada do alto a baixo
No momento em que Jesus morreu, no templo não muito distante em Jerusalém, “o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo” (Mt 27.51). Esse evento, coincidindo exatamente com a morte de Cristo, mostra-nos que Cristo fez o sacrifício final. A nova aliança foi estabelecida. A cortina separava o “santo dos santos” de todo os restante do templo. Atrás da cortina estava a arca, onde uma vez por ano o sumo sacerdote fazia expiação pelo povo.
A cortina significava que, embora Deus estivesse perto, ainda havia uma distância entre Ele e Seu povo. Eles não podiam entrar em sua santa presença.
Mas quando Cristo morreu e o grande sacrifício foi trazido, essa cortina não era mais necessária; pois a distância entre Deus e o homem fora superada na nova aliança pelo sangue de Jesus Cristo.
Observe que a cortina foi rasgada de alto a baixo. Isso significa que não foi feito por uma mão humana, pois seria rasgado de baixo para cima. O fato de ter sido rasgado de cima para baixo significa que a mão de Deus estava envolvida e que Ele declarou que o caminho para Deus agora estava desobstruído. Podemos ir diretamente ao Pai em nome de Cristo, por causa de Seu único sacrifício na cruz.
Este é o momento em que a nova aliança é publicamente confirmada no templo de Israel.
A paz da nova aliança
Observamos anteriormente que um pacto leva a uma situação de harmonia e paz. Na noite em que Cristo foi traído, Seus discípulos o abandonaram e um deles até o negou com juramento. Alguém poderia pensar que Cristo, depois de Sua ressurreição, agiria da maneira que os discípulos agiram. E certamente eles se sentiram pouco à vontade do lado dEle: Será que Ele os puniria agora por causa do seu medo e traição?
Mas, ao encontrar Seus discípulos, Cristo assegura que tudo está perdoado e tudo está bem. Não tenham medo. Não se assustem. Em João 20, lemos duas vezes que, no primeiro encontro com Seus discípulos, Cristo lhes diz: “Paz seja convosco!” (vss. 20, 21). Não se trata de mera repetição, mas de um significado mais profundo.
O primeiro “paz seja convosco” pode ser vista como uma saudação geral pela qual o Senhor procura tranquilizar Seus discípulos. Ele não está zangado com eles, e não guarda seus pecados contra eles. Eles ainda podem ter certeza e o seu amor.
Depois, diz no versículo 20: “E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado.” Portanto, diz: “Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor.” Ele pagou por todos os seus pecados.
Depois, lemos no versículo 21: “Mais uma vez Jesus disse: Paz seja convosco!” Essa saudação tem um significado igualmente maior para eles do que a anterior. Agora eles sabem ao certo quem Ele é e começam a entender o que fizeram. As palavras do profeta Isaías vêm à mente: “…o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.” (Is 53.5,6).
Paz seja convosco: esta saudação é o coração da nova aliança.
Começando com Moisés e os profetas…
Os discípulos do Senhor Jesus foram os primeiros alvos de incertezas. Havia muitas coisas relacionadas à vida, morte e ressurreição de Cristo que eles não podiam entender.
Encontramos essa confusão com os dois discípulos que estavam a caminho de Emaús (Lc 24.13-35). Notável é a declaração deles sobre Jesus: “os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam.” (versículos 20, 21).
Obviamente, Cristo precisa fazer algumas explicações. Como os eventos ou os últimos dias podem ser explicados? Ele diz (vs 27): “E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.” Moisés e os profetas são todo o Antigo Testamento. Cristo explica seu ministério começando com Gênesis e passando pelos profetas, até Malaquias. O ministério de Cristo só pode ser entendido sob uma luz da aliança, como predita e prenunciada na Palavra de Deus desde o início dos tempos.
Mais tarde naquele dia, quando ele apareceu a todos os seus discípulos, ele disse: “São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (vs 44); e Lucas acrescenta: “Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;” (vs 45). Eles aprenderam a ler o Antigo Testamento à luz do ministério de Cristo e entenderam como nele a antiga aliança havia encontrado seu cumprimento.
Cristo sustentou a unidade das Escrituras e deixou claro que Seu ministério deve ser entendido à luz da Palavra de Deus revelada, concedida através dos tempos. Isso significa que somente à luz da antiga aliança podemos entender a glória maior da nova.
Artigo publicado originalmente na christianstudylibrary.org.
Tradução: Marcel Tavares.
Revisão: Ester Santos.
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